A nebulosa Rosette, ou NGC 2237, é uma nebulosa de emissão brilhante claramente associada a um aglomerado aberto de estrelas
(The New York Times / Terra) No universo, sempre existe espaço para outra surpresa. Ou mais duas. Ou mais um trilhão. Um exemplo é a nebulosa da Cabeça de Bruxa ¿uma trilha alongada de gases com cor próxima ao púrpura, na constelação Eridanus. Se observamos uma imagem da nebulosa vista de lado, ela se parece realmente com uma bruxa - um queixo pontudo, um chapéu cônico, como que pronta a subir na vassoura e a oferecer uma maçã para a Branca de Neve.
Nos meus 30 anos de cobertura do ramo da astronomia, eu jamais tinha ouvido falar da nebulosa da Cabeça de Bruxa até que encontrei uma linda foto de página dupla que a mostra serpenteando em meio a um firmamento escuro mas pontuado por estrelas brilhantes, no livro "Far Out: A Space-Time Chronicle", um belíssimo guia ilustrado sobre o universo escrito pelo fotógrafo, jornalista e cineasta Michael Benson, evidentemente um veterano da observação espacial.
Na verdade "belíssimo" não faz a menor justiça aos méritos estéticos e literários do livro, publicado no final do ano passado. Vivo em Nova York, e por isso a maior parte do cosmos me é invisível, mas mesmo na época em que morei sob os céus escuros e cristalinamente límpidos dos montes Catskills - que costumam ser extremamente gélidos nessa época do ano - minha visão encontrava limites. Se você não dispuser de um Telescópio Espacial Hubble pessoal, esse livro é o melhor substituto.
Benson pesquisou e obteve imagens dos melhores observatórios mundiais, entre os quais o Hubble, para criar um guia passo a passo sobre o cosmos, começando de nossa galáxia e se expandindo para as regiões mais distantes, inicialmente pelos fantásticos aglomerados galácticos e nebulosas localizados a apenas algumas centenas de anos-luz de distância mas se estendendo também às galáxias primordiais que se apresentam como pontos vermelhos de luz pouco brilhante em meio à muralha do firmamento, a bilhões de anos-luz de distância das estrelas visíveis, e remontando praticamente ao Big Bang.
O resultado é um livro de arte digno da editora Abrams, a responsável por sua publicação. Vemos estrelas aglomeradas como se fossem grãos de areia dourados, o gás expandido em forma de delicados tentáculos azuis, ou aglutinado como nuvens densa de cor vinho, assumindo formas intricadas em meio a galáxias que exibem diversos aglomerados estelares dançando como aranhas pendentes do teto.
Benson reprocessou muitas das imagens, de maneira a que suas cores refletissem de mais perto a realidade física. Por exemplo, na versão da agência espacial americana(Nasa) para o projeto "Pilares da Criação", do Hubble, que mostra faixas de gás e poeira cósmica fervilhando até que se dissipam e revelam novas estrelas na nebulosa da Águia, os "pilares" são marrons e a radiação que os dissipa é verde. Benson transformou a imagem em uma composição em tons de vermelho, que chegam até o vinho, a cor real do hidrogênio ionizado que forma a nebulosa.
O leitor pode passar horas sentado folheando o livro sem jamais se entediar com as cortes, formas e texturas nas quais a criação cósmica se ordena, ou pode ler os eruditos ensaios que acompanham as imagens, já que a prosa de Benson tem qualidade semelhante à das imagens que a cercam, e isso é uma realização impressionante.
"Os espelhos de ampliação de nossos telescópios", ele escreve, "são feitos de materiais formados nos centros do mesmo processo de geração estelar que eles agora registram".
Um conjunto de ensaios relaciona aquilo que estava acontecendo no céu aos acontecimentos na história da Terra. A nebulosa da Cabeça de Bruxa, por exemplo, fica a cerca de 700 anos-luz de distância, o que significa que sua luz fraca, imprecisa, está viajando desde o começo do século 14 para chegar a nós. Entre outras coisas, esse período da história humana é caracterizado pela peste negra, os primeiros indícios do Renascimento na Itália e a criação da dinastia Ming na China.
A nebulosa do Coração, outra nova descoberta, fica em Cassiopeia, bem ao lado da nebulosa da Alma, e a 78,5 mil anos-luz de distância de nosso planeta. As imagens que dela recebemos datam da época em que os primeiros traços de um sistema precedente à escrita surgiram na China e os primeiros vinhos foram criados na Pérsia, e do momento em que o Mar Mediterrâneo rasgou seus limites, em modo bíblico, e causou uma inundação que formou o Mar Negro.
A jornada em direção ao espaço mais distante se encerra com as imagens imprecisas de galáxias quase invisíveis, que vemos mais ou menos na época do Big Bang. Ou será que esse é o começo? Em sua epígrafe para o livro, Benson cita o poeta William Blake: "A eternidade ama as produções do tempo". Bem, o mesmo não pode ser dito sobre todos nós?
Nos meus 30 anos de cobertura do ramo da astronomia, eu jamais tinha ouvido falar da nebulosa da Cabeça de Bruxa até que encontrei uma linda foto de página dupla que a mostra serpenteando em meio a um firmamento escuro mas pontuado por estrelas brilhantes, no livro "Far Out: A Space-Time Chronicle", um belíssimo guia ilustrado sobre o universo escrito pelo fotógrafo, jornalista e cineasta Michael Benson, evidentemente um veterano da observação espacial.
Na verdade "belíssimo" não faz a menor justiça aos méritos estéticos e literários do livro, publicado no final do ano passado. Vivo em Nova York, e por isso a maior parte do cosmos me é invisível, mas mesmo na época em que morei sob os céus escuros e cristalinamente límpidos dos montes Catskills - que costumam ser extremamente gélidos nessa época do ano - minha visão encontrava limites. Se você não dispuser de um Telescópio Espacial Hubble pessoal, esse livro é o melhor substituto.
Benson pesquisou e obteve imagens dos melhores observatórios mundiais, entre os quais o Hubble, para criar um guia passo a passo sobre o cosmos, começando de nossa galáxia e se expandindo para as regiões mais distantes, inicialmente pelos fantásticos aglomerados galácticos e nebulosas localizados a apenas algumas centenas de anos-luz de distância mas se estendendo também às galáxias primordiais que se apresentam como pontos vermelhos de luz pouco brilhante em meio à muralha do firmamento, a bilhões de anos-luz de distância das estrelas visíveis, e remontando praticamente ao Big Bang.
O resultado é um livro de arte digno da editora Abrams, a responsável por sua publicação. Vemos estrelas aglomeradas como se fossem grãos de areia dourados, o gás expandido em forma de delicados tentáculos azuis, ou aglutinado como nuvens densa de cor vinho, assumindo formas intricadas em meio a galáxias que exibem diversos aglomerados estelares dançando como aranhas pendentes do teto.
Benson reprocessou muitas das imagens, de maneira a que suas cores refletissem de mais perto a realidade física. Por exemplo, na versão da agência espacial americana(Nasa) para o projeto "Pilares da Criação", do Hubble, que mostra faixas de gás e poeira cósmica fervilhando até que se dissipam e revelam novas estrelas na nebulosa da Águia, os "pilares" são marrons e a radiação que os dissipa é verde. Benson transformou a imagem em uma composição em tons de vermelho, que chegam até o vinho, a cor real do hidrogênio ionizado que forma a nebulosa.
O leitor pode passar horas sentado folheando o livro sem jamais se entediar com as cortes, formas e texturas nas quais a criação cósmica se ordena, ou pode ler os eruditos ensaios que acompanham as imagens, já que a prosa de Benson tem qualidade semelhante à das imagens que a cercam, e isso é uma realização impressionante.
"Os espelhos de ampliação de nossos telescópios", ele escreve, "são feitos de materiais formados nos centros do mesmo processo de geração estelar que eles agora registram".
Um conjunto de ensaios relaciona aquilo que estava acontecendo no céu aos acontecimentos na história da Terra. A nebulosa da Cabeça de Bruxa, por exemplo, fica a cerca de 700 anos-luz de distância, o que significa que sua luz fraca, imprecisa, está viajando desde o começo do século 14 para chegar a nós. Entre outras coisas, esse período da história humana é caracterizado pela peste negra, os primeiros indícios do Renascimento na Itália e a criação da dinastia Ming na China.
A nebulosa do Coração, outra nova descoberta, fica em Cassiopeia, bem ao lado da nebulosa da Alma, e a 78,5 mil anos-luz de distância de nosso planeta. As imagens que dela recebemos datam da época em que os primeiros traços de um sistema precedente à escrita surgiram na China e os primeiros vinhos foram criados na Pérsia, e do momento em que o Mar Mediterrâneo rasgou seus limites, em modo bíblico, e causou uma inundação que formou o Mar Negro.
A jornada em direção ao espaço mais distante se encerra com as imagens imprecisas de galáxias quase invisíveis, que vemos mais ou menos na época do Big Bang. Ou será que esse é o começo? Em sua epígrafe para o livro, Benson cita o poeta William Blake: "A eternidade ama as produções do tempo". Bem, o mesmo não pode ser dito sobre todos nós?
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