terça-feira, 19 de agosto de 2014

Fotógrafo revela em imagens céu de Campinas invisível aos olhos

'Quero mostrar a realidade que as pessoas não percebem', afirma Defavari. Para ele, melhor lugar na cidade para fotografar é Observatório Municipal.


(G1) Olhar para o alto em busca do melhor momento para revelar estrelas, planetas, meteoros e a Via Láctea é o hobby, que está quase virando profissão, de um engenheiro mecânico que mora em Campinas (SP). O interesse de Rafael Defavari, de 28 anos, por astronomia uniu-se a sua outra grande paixão, a fotografia, levando para suas imagens noturnas do céu da cidade muito mais do que os nossos olhos podem captar numa simples observação.

"Eu quero mostrar a realidade, o que as pessoas não percebem e, por isso, muitas vezes elas se espantam quando olham minhas imagens", afirma o fotógrafo. Para ele, isso acontece porque olhamos pouco para o céu. "Muitos nunca tiveram a oportunidade de perceber que aquilo [universo] está lá para eles observarem. E a câmera capta mais do que nossos olhos conseguem ver ", destaca.

União de paixões
A união das duas paixões começou em 2009 durante um intercâmbio para a França. "Eu viajava e queria mostrar tudo para a minha família. Comecei a estudar e fotografei até a Aurora Boreal na Noruega, mas não é a que eu gostaria, pretendo voltar lá", planeja.

Depois disso, ele conta que não parou mais e passou a registrar em imagens também o céu de Campinas, a partir do Observatório Municipal Jean Nicolini, no distrito de Joaquim Egídio, por ser o ponto mais distante da parte urbana da cidade. "Eu não sabia da existência do local, acabei descobrindo por acaso. Ele é o lugar mais afastado, então é o melhor para fotografar aqui", explica.

Defavari conta que no início não imaginava que poderia fazer fotos com tantas estrelas e também com a presença marcante da Via Láctea - galáxia do qual o sistema solar faz parte - a partir do céu de Campinas devido ao excesso de luzes. "Eu não acreditava no potencial daqui, porque na cidade falta repensar o sistema de iluminação, tem muito poste jogando luz para cima", afirma.

Dias certos
Segundo Defavari, para conseguir imagens com tantos detalhes, é preciso esperar o momento certo. "Primeiro, a lua não pode estar no céu. Tem que ser lua nova, não pode ter nuvem e a Via Láctea tem que estar lá e ela só fica entre maio e outubro."

O fotógrafo conta que quando encontra as condições ideais para fazer as imagens, chega a passar a noite toda fotografando. "Minha namorada até brinca que quando tem lua nova, ela perde o lugar. Sempre gostei de estrela, de céu, é desde pequeno, eu tinha até uma lunetinha", relembra.

Além dos fatores astronômicos, é preciso ter também equipamentos adequados. Antes de iniciar um trabalho, ele monta a câmera e o tripé, coloca uma lente especial e deixa a máquina disparar automaticamente. "Eu uso lentes rápidas. As dos kits são muito escuras e o problema da Via Láctea e das estrelas daqui [Campinas] é que as luzes são muito fracas. Então, tem que deixar um tempo longo de exposição para captar cada vez mais luz.", explica.

Além disso, ele usa um aplicativo para mapear as condições astronômicas e encontrar o que será fotografado. "O céu depende da hora e do local, então você escolhe no simulador e coloca onde você está, dia e horário que quer fotografar, e ele te dá todas as coordenadas, como posição das estrelas. É importante porque nem sempre temos o visual antes de fotografar."

Sem interferência
Questionado sobre o tipo de tratamento que aplica nas imagens, Defavari rebate e diz que não interfere nas fotografias e que tudo que aparece em seus trabalhos é um registro do que acontece no ceú. "O único tratamento que eu faço é transformar o formato bruto em JPEG. Altero brilho e contraste porque nem sempre a câmera capta do jeito certo por ser foto noturna. Mas, introduzir cores ou coisas que não existiam, jamais! Tudo que está lá a câmera registrou realmente. Nada é fantasia", destaca.

Além de imagens a partir de máquinas fotográficas, Defavari conta que em algumas situações também utiliza um telescópio. "Não tem diferença em princípio de funcionamento, pois o telescópio é uma lente, só muda a distância focal. Uma lente [comum] tem distância de 50 mm e o do observatório tem mais de 6 mil mm. É a mesma câmera que é acoplada ao equipamento. Faço fotos assim de galáxias distantes."

Novo desafio
Apesar de conseguir imagens com muitos detalhes e que impressionam em Campinas, sua paixão por fotografar estrelas e galáxias está longe de terminar. Para Defavari seu maior desafio ainda está por vir, será em outubro, quando viajará para o Chile. "O céu mais bonito do mundo é do Atacama no Chile. É uma região seca, pois chove pouco por ano. Além disso, o deserto está muito longe da cidade, a poluição luminosa não atrapalha e nem as condições atmosféricas", se anima o fotógrafo planejando o futuro.
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